Usuários com TEA recebem atendimento em odontologia nas unidades de saúde da prefeitura
23/09/2025 16h07


A Prefeitura de Manaus vem atuando para fortalecer a atenção à saúde bucal das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede básica do município. Nas unidades da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), elas contam com um atendimento odontológico humanizado e adequado as suas necessidades, com equipes de saúde qualificadas para atenção a pessoas autistas, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desses usuários e seus familiares.
A técnica da Gerência de Saúde Bucal da Semsa, cirurgiã-dentista Kátia Felizardo, explica que todos os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive pessoas com TEA, podem buscar serviços de saúde bucal, de forma gratuita, em 127 Unidades de Saúde da Família (USFs) da rede municipal. Os estabelecimentos ofertam consultas de avaliação e atendimento clínico ambulatorial, incluindo procedimentos de baixa complexidade, como restaurações, extrações e remoção de tártaro.
“A maioria dos profissionais que atuam nas unidades já é qualificada para atender pessoas com necessidades especiais, inclusive usuários com TEA. Graças a isso, a rede de Atenção Primária atende quase a totalidade das demandas em saúde bucal, da acolhida ao fim do tratamento”, relata a cirurgiã-dentista.
Caso necessite de atenção especializada ou de procedimentos de maior complexidade, conforme Kátia, o usuário será encaminhado para um dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), havendo um em cada Distrito de Saúde (Disa), Norte, Leste, Sul e Oeste, além de um CEO em convênio com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
“Os CEOs têm profissionais especializados no atendimento a pessoas com necessidades especiais, inclusive TEA, ofertando serviços básicos e especializados, como tratamento de canal, cirurgia de dente incluso, ortodontia preventiva, biópsia de tecidos orais, entre outros”, informa a técnica.
Atendimento humanizado
A cirurgiã-dentista especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do CEO Leste, Djanira Noronha, relata que os usuários autistas referenciados ao centro inicialmente passam por uma avaliação abrangente, para conhecer o paciente e suas necessidades a fundo, sem deixar de lado o caráter humanizado e acolhedor.
“Conversamos com a família para saber do usuário, de seus exames e avaliações de saúde, que medicações utiliza, se tem suporte de terapia. E também orientamos os pais, enfatizando o papel deles no cuidado da criança autista e a importância do acompanhamento multiprofissional”, explica a especialista.
Alguns usuários com TEA podem apresentar resistência ao tratamento. Para condicionar esses pacientes a receber atendimento, Djanira lança mão de estratégias que vão desde atividades lúdicas e musicoterapia até cobrir a cadeira de dentista com edredons e outros itens trazidos pela família. “Se o usuário senta na cadeira, é ótimo, mas já cheguei a atender um paciente no chão do consultório”, lembra ela.
A administração de medicamentos com ação calmante já utilizados pelo paciente, relata a especialista, é outra forma de viabilizar o tratamento. “Não trabalhamos com imobilização. Quando muito, em procedimentos simples, empregamos o condicionamento de contenção protetora, em que o pai abraça o filho, ao lado de outras técnicas”, aponta Djanira.
Conforme Djanira, pessoas com TEA tendem a apresentar problemas odontológicos, como cáries e doenças na gengiva, devido aos desafios na higiene bucal diária. A abordagem humanizada e acolhedora nos atendimentos, aliada à orientação e envolvimento dos pais no cuidado das crianças autistas, tem impactos positivos na vida desses pacientes.
“Vemos crianças não verbais que reproduzem as orientações de higiene que ensinamos no consultório, crianças que deixam de ter pneumonia de repetição decorrente da má saúde bucal. Ficamos felizes quando, após iniciar o cuidado com a boca, eles têm uma melhora geral”, diz a cirurgiã-dentista.
Conforme Djanira, apenas quando a equipe não consiga a colaboração do paciente, após várias tentativas de condicionamento em nível ambulatorial, o caso é encaminhado para a rede estadual de atenção especializada, para atendimento em centros cirúrgicos sob anestesia geral ou sedação.
“Também encaminhamos para a atenção especializada os pacientes que apresentem muitas alterações sistêmicas graves de saúde geral, exigindo maior complexidade do tratamento a ser realizado, levando em conta a segurança do próprio paciente”, complementa a cirurgiã-dentista.
Atendimentos
De acordo com a Semsa, com base em dados do sistema e-SUS APS, do Ministério da Saúde, os atendimentos odontológicos prestados a usuários com TEA na rede municipal somaram 4.029 em 2024, de um total de 10.589 atendimentos de saúde geral ofertados a esse público naquele ano.
Neste ano, até setembro, o número de atendimentos odontológicos a autistas já chega a 3.396, dentre 8.537 atendimentos de saúde geral.
Espaço Amigo Ruy
Além das unidades básicas e CEOs, a Semsa oferta atendimento odontológico especializado a crianças e adolescentes assistidos pelo Espaço de Atendimento Multidisciplinar ao Autista Amigo Ruy (Eamaar), na zona Centro-Oeste.
Além de contar com cirurgiões-dentistas e técnicos de saúde bucal da Semsa, qualificados para atenção a pessoas com TEA, o espaço dispõe de aparelho para sedação consciente, com o uso de óxido nitroso. A técnica, segura, indolor e não invasiva, reduz a irritabilidade e agitação frequentes em jovens com TEA, facilitando o trabalho das equipes.
Em quatro anos, os atendimentos odontológicos no Eamaar, realizados por profissionais da Semsa, chegaram a quase 12 mil, tendo crescido de 1,6 mil, em 2021, para 5,1 mil, no ano passado.
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Texto – Jony Clay Borges / SemsaFotos – Divulgação / Semsa