‘Ycamiabas’ completa um ano de atividades como um dos equipamentos socioassistenciais mais importantes da gestão municipal na proteção de mulheres

Por Prefeitura de Manaus

22/07/2024 12h28

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Há exatamente um ano, a Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), dava um importante passo à frente na ampliação de políticas públicas voltadas à garantia de direitos de mulheres em situação de violência doméstica e vulnerabilidade social na capital amazonense. Neste mesmo dia, em 21 de julho de 2023, era inaugurada a “Ycamiabas”, a Casa de Acolhimento para Mulheres.

“Quando olhamos para a cidade de Manaus, infelizmente ainda vemos uma cidade que é muito perigosa para mulheres e meninas, uma cidade que ainda tem muito a evoluir no sentido de garantir um espaço seguro para todos. A inauguração da ‘Ycamiabas’ significou não apenas um avanço primordial nesse sentido, mas a reafirmação do trabalho da prefeitura na proteção das mulheres manauaras”, destacou a titular da Semasc, Dermi Rayol.

Trabalho que muda vidas

Com capacidade para receber até 30 pessoas e uma equipe multidisciplinar capacitada para atender em tempo integral as acolhidas, a “Ycamiabas” tem o objetivo de oferecer abrigo e assistência para mulheres sobreviventes de violência doméstica ou em situação de extrema vulnerabilidade acompanhadas de seus filhos por até 90 dias.

É neste espaço em que centenas de famílias atendidas ao longo deste primeiro ano de atividade tiveram acesso a serviços de escuta qualificada, atendimento psicossocial, orientação pedagógica e encaminhamentos para a emissão de documentação básica. Indo além do acolhimento institucional propriamente dito, ainda são trabalhadas na “Ycamiabas” atividades de capacitação com as mulheres atendidas, buscando profissionalizar quem muitas vezes depende financeiramente de seus abusadores.

É através do trabalho desenvolvido nessa casa que vidas têm mudado, uma vez que mais de 160 pessoas já passaram pela casa e cerca de 1.120 atendimentos já foram realizados de acordo com a demanda de cada caso.  

Esse foi o caso de J. M., que passou três meses na casa junto de seus filhos após sofrer uma tentativa de feminicídio. De acordo com a mãe de dois filhos, o tratamento recebido por ela e sua família foi o alicerce que fundamentou todo o processo que permitiu com que superassem o ciclo de violência em que estavam inseridos.

“Eu já saí daqui com um emprego, sabe? Cheguei aqui completamente destruída psicologicamente, com a mente perturbada e sem forças para continuar após passar por tantas situações que nenhuma mãe deveria passar com os seus filhos”, explicou. “Quando chegamos aqui eu fui atendida por uma psicóloga, meus filhos foram acompanhados por uma pedagoga, fomos recebidos de braços abertos por uma equipe maravilhosa que nos permitiu viver depois de sobreviver”.

Ainda segundo J. M., ela e seus filhos continuam no radar da equipe técnica da “Ycamiabas”, o que, para ela, demonstra o diferencial da casa de acolhimento em relação a outros equipamentos.

“Mesmo depois que saímos do acolhimento, as meninas ainda procuram saber como estamos, como temos andado e se estamos bem. São nesses momentos em que eu olho para o meu quarto ‘geladinho’ no ar-condicionado e lembro de quando eu precisava abanar meus filhos durante a toda noite no calor e com fome, lembro do carinho com que fomos recebidos na ‘Ycamiabas’ e de onde estamos hoje graças a esse lugar”, concluiu.

Para a coordenadora da casa de acolhimento, Gessilvia Lima, casos como o de J. M. e seus filhos evidenciam os resultados atingidos quando o poder público se compromete a atuar de forma incisiva ante as problemáticas sociais que uma metrópole como Manaus possui.

“Trabalhamos em diferentes frentes justamente para que todas as mulheres que chegam à ‘Ycamiabas’ possam ter um recomeço. Nos esforçamos todos os dias para que possamos desenvolver a autoestima de nossas acolhidas, entender suas necessidades, atuar na resolução de seus problemas e garantir que possuam meios de se sustentar após o seu desligamento, superando de uma vez por todas as violações de direitos que viveram antes de ser atendidas aqui”, destacou. 

Parcerias que tornam o trabalho possível

Para que um trabalho dessa magnitude seja viável a longo prazo, a Prefeitura de Manaus conta com o apoio de diversos parceiros para que as atividades e serviços prestados na “Ycamiabas” possam ser desenvolvidos de maneira qualificada. Neste sentido, mesmo antes do início das atividades do equipamento, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) tem sido um dos principais parceiros da casa de acolhimento e das famílias acolhidas.

Por meio de parceria firmada com a gestão municipal ainda no desenvolvimento do projeto, a agência é responsável por prover apoio técnico através da disponibilização de profissionais capacitados para o atendimento das acolhidas, parceria esta que não se limita apenas à “Ycamiabas”, mas ao Centro de Referência dos Direitos da Mulher (CRDM) e aos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) também. Além disso, o UNFPA também foi responsável pelo mobiliário da casa de acolhimento, buscando tornar o espaço mais “familiar e caseiro” possível, de acordo com sua Chefe de Escritório em Manaus, Débora Rodrigues.

“Uma das metas do UNFPA é um mundo com zero violência baseada em gênero e outras práticas nocivas a mulheres e meninas. Infelizmente, sabemos que essas violações de direitos ainda são rotineiras, então é muito importante que possamos garantir uma resposta integral às necessidades dessas mulheres com um atendimento humanizado, com serviços e profissionais capacitados para que, nesse momento de fragilidade, essas mulheres possam ter a dignidade de um acolhimento qualificado”, explicou.

Orgulho, satisfação e desafios: o mito das Ycamiabas

De acordo com relatos de viajantes e exploradores europeus entre os séculos XVI e XVIII, como o espanhol Francisco de Orellana, o alemão Georg Heinrich von Langsdorff e o francês Charles-Marie de La Condamine, as Ycamiabas eram uma tribo de mulheres guerreiras que habitavam uma região inexplorada em algum dos infinitos do Rio Amazonas, batizado em homenagem a tribo e em alusão à lenda das guerreiras amazonas da mitologia grega.

Segundo os contos populares, as Ycamiabas eram conhecidas por sua força física, habilidades de combate e pela formação de uma sociedade matriarcal, longe da presença de homens.

É tendo como base essa parte do folclore e da história amazônica que o trabalho do equipamento é desenvolvido, buscando oferecer apoio a mulheres em situações de vulnerabilidade por meio de um espaço seguro e dedicado ao seu desenvolvimento pessoal, sua autoestima e sua independência.

Para a psicóloga da “Ycamiabas”, Aline Vitorino, esse é um trabalho árduo e que tem demandado muito de todas técnicas que atuam no equipamento, mas que também tem se mostrado extremamente gratificante e satisfatório à medida em que mais vidas são salvas através do espaço.

“É difícil, mas é emocionante na mesma medida. É um desafio que assumimos todos os dias para que possamos alcançar mais mulheres que possam vir a precisar de nosso apoio. É a partir do trabalho que realizamos aqui que conseguimos observar resultados muito positivos na vida de mulheres que agora conseguem olhar para si e perceber que ainda existe força dentro de si, que ainda existe uma perspectiva de vida para elas e para aqueles que estão ao seu lado”, concluiu.

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Texto: Guilherme Pacheco / Semasc

Foto: Arquivo Semcom